domingo, 2 de janeiro de 2011

Que você, hein, linda?!

Dezessete anos. Mas parece que foi ontem que pesava apenas dezessete quilos e eu a jogava para cima, ela voava por uma fração de segundos, feliz, e voltava pros meus braços. Dezessete anos. A menina vai-se tornando mulher, mas dotada da incrível magia de não precisar deixar de ser menina para amadurecer. Este parece ser o seu melhor jeito de dizer que pureza também combina com maturidade. A menina no umbigo de quem cheguei a colocar remédio para cicatrizar vai-se tornando a mulher que reúne a família e despeja-lhe medos, lágrimas, sentimentos e verdades. Porque esta menina, apesar de ainda tão pueril quanto linda, vai-se tornando mulher e cada vez mais linda. A menina que eu vi de fraldas já tonteia marmanjos com suas roupas provocantes. Afinal, já são dezessete anos. E eu queria ter sido, quando aos dezessete anos, um bocado do que ela é hoje; da mesma forma que ela já disse que quer ser igual a mim quando crescer. Mas, se ela continuar a crescer assim, vai ser muito melhor. Até porque melhor que ser eu é ser ela. É ser a menina, hoje, dos dezessete. A menina de cabelos bagunçados, que, quando ainda não sabia falar direito, juntou "meu" com "filho", tentando imitar MAMÃE, e me chamou de "Mifilho", para nunca mais deixar de me chamar assim, mesmo tendo aprendido estas e tantas outras palavras. Palavras que passou a combinar tão bem, talvez por incentivo, talvez por bom gosto, mas, com certeza, porque está crescendo, amadurecendo, e aprimorando um dom. A menina que, tempos atrás, eu não queria deixar atravessar uma rua sozinha, agora eu quero que pegue um ônibus interestadual e diminua a distância que intercala a gente. A menina que há tão pouco tempo andava cabaleante porque ainda não sabia precisar os passos, hoje estuda, faz vestibular, passa, e é univeritária. Essa é a menina por quem sinto um amor maior do que senti por qualquer das namoradas que tive. É a menina com quem eu estive no primeiro dia de aula de sua vida, e que eu vi percorrer todo o caminho até a primeira escola cheia de entusiasmo; mas só até chegar à última esquina e ficar assustada. Foi dessa menina que, anos mais tarde, cheguei a ser professor e hoje me pergunto se mais ensinei ou mais aprendi com ela. É a menina que chega agora a incríveis - e quase incontáveis - dezessete anos. A menina que eu já deixei cair dos meus braços e, por conta disso, quase fiz sair das nossas vidas. A menina que me faz mais falta do que ela jamais chegaria a entender. A menina que eu gostaria de chamar, agora, por tê-la ouvido passar no corredor da casa. E até chamo, mas, infelizmente, como ela não ouve, não responde ao chamado. Mas, tudo bem! Eu só ia dizer uma coisinha chata para ouvi-la resmungar. Esta menina, agora do alto dos seus dezessete anos, é a mesma que eu quis, e levei ao topo da montanha. É a menina que abre os braços em cima da pedra mais alta que encontra e parece que só vê céu, só mostra céu. É a menina que me fez soluçar em meio a lágrimas que saiam em enxurrada enquanto eu lia uma carta escrita com as letras e os setimentos dela. É a mesma menina que vai se juntando em tantas para compor essa de agora, com dezessete anos. A menina que coloca meu almoço, que me perturba, que se deixa perturbar por mim, que perde a paciência comigo, que me tira a paciência, que escreve melhor que eu, que me dá orgulho, que é cabeça dura, que é coração mole, que abraça mais crianças do que os braços podem comportar, porque, afinal, ela as abraça com o coração, e este comporta infinitamente. Essa menina coloca um nariz de palhaço, um chapéu engraçado, talvez um jaleco branco, um sorriso no rosto, outro na alma, e alegra crianças, e as faz sorrir, e as faz feliz... e as perde! Droga! E aí ela chora, porque, mesmo já crescida, a menina ainda chora, sim. A menina e a mulher, numa só, ainda choram. Ela não é imune às dores. Mas é resistente a elas. Tanto que, ainda depois de perdas e dores e choros, ela recoloca um nariz de palhaço, um chapéu engraçado, talvez um jaleco branco, um sorriso no rosto, outro na alma, e segue a vida. A menina mudou de formas. Agora já está tão crescida, a ponto de eu ser colocado em seus braços. Tão crescida a ponto de eu me emocionar com o que ela escreve. Tão crescida a ponto de eu saber que ela já pode tanto. Tão crescida! É a menina a quem devoto uma paixão tão urgente, um amor tão imediato, que nem meu Mengão supera. Menina que eu queria poder embalar sempre, como fiz tanto, para que dormisse sorrindo. Mas, que já anda com as próprias pernas, pensa com a própria mente, age sob o próprio impulso - às vezes, impusivo demais! É a menina sobre quem eu escreveria um livro, mas apenas se eu soubesse falar sobre o que não se explica: esse amor que sinto por ela. // Termino este texto aqui, assim mesmo, sem parágrafos, como quem não respira, como quem sente saudades e não as mata, como quem quer abraçar e não pode, mas, também, como quem ama e vai até o fim...

Mifilho

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